quarta-feira, 24 de março de 2010

Kindle: Construindo um Mercado Novo

Ultimamente tenho resolvido crises de curiosidade em relação aos leitores de e-books. As resolvo lendo, pesquisando à respeito, entrando no oráculo do youtube para saciar a sede por conhecimentos específicos (é mesmo impressionante o que se consegue encontrar lá, não?).

Bem, toda a curiosidade vem do fato de ter aumentado sobremaneira o número de leituras simultâneas na minha vida ultimamente. Tenho um livro de cabeceira espiritual, outro de negócios e gestão de pessoas, revistas generalistas, revistas de nicho, periódicos... um dia desses explodi e me recusei a ler uma fatura de cartão de crédito! Coitada.

O fato é que também tenho viajado muito e descobri que levar livro em bagagem pesa. Daí a pensar que se tivesse um jeito de compactar toda essa massa de celulose em alguma coisa mais prática de carregar, é um pulo! Afinal vida seria tão mais fácil...

Somente então descobri que o Kindle já fora lançado desde 2007 pela Amazon.

Alguns aperfeiçoamentos depois, temos uma versão em 16 tons de cinza, pesando 280g e com uma incômoda interface baseada em teclas de aparência duvidosa. O fato é que ele dá conta do recado de se ler um livro.

A portabilidade não é mais diferencial no mercado. O concorrente Cooler, da Interead já atinge módicas 170g para um porte semelhante de aparelho.

As mágicas do Kindle se chamam e-ink e conectividade.

E-ink é a tal da tinta eletrônica, que diferentemente das tecnologias tradicionais para telas finas, não emite luz e nem consome energia para manter o pixel aceso. É como se enchessemos pequenos vasos de tinta preta (cinza) e eles permanecessem pintados até que alguém os esvaziasse novamente, somente gastando energia nessa operação. Na prática isso equivale a termos luminosidade e índice de reflexão semelhantes aos impressos de papel, de forma a não cansarmos a vista e mantermos o prazer de ler numa tábua eletrônica (ou você acha legal ler livro em tela de computador? Ninguém merece...)

A conectividade fica por conta do acesso nativo a rede 3G e conexão não tarifada para visitarmos a estante virtual que a própria Amazon montou com 300 mil livros (e subindo), com direito a baixarmos em menos de um minuto uma obra inteira por módicos 10 dólares.

Achei ducaramba a estratégia montada pela Amazon!!!

Para nós, tupiniquins, os problemas são a falta de títulos em português e a ausência de suporte a navegação web livre, coisa que nos EUA é possível.

Mas, em última análise, pensei o impacto que esse tipo de conceito vai causar nas estruturas estabelecidas em torno do mercado literário convencional. A exemplo do que o mp3 fez com a industria fonográfica, forçando a mudança do modelo distribuidor de royalties e remuneração dos artistas, o kindle e seus derivados devem provocar impacto semelhante nas artes escritas, sobretudo nos custos de distribuição dos livros. Editoras, autores e distribuidores já iniciaram a corrida para renegociação de contratos e redivisão do bolo autoral, afinal quem precisará transportar livros até as lojas, não é?

Estima-se que entre 15 e 20% dos custos totais de produção literária são empregados na distribuição e esse montante tende a ficar na mão dos autores, que deverão negociar diretamente com o provedor de conteúdo para os e-readers. No caso do Kindle, leia-se: Amazon (viu aí a sapiência do negócio?). As editoras terão que reinventar-se, focar no marketing, adaptar-se a um mercado que já não exigirá mais peças físicas e sim o conteúdo digital, enfim, como todo bom movimento de mudança, veremos momentos de pura criatividade corporativa e auto reinvenção para absorver a evolução natural imposta ao mercado pela tecnologia.

Saibam que blogs também tem o seu conteúdo vendido pela Amazon americana. É meio assim: houve atualização, pimba! Chega wireless ao seu kindle na mochila e você será debitado em cents de dólar.
Legal, não?

Tudo bem que a tecnologia (já) nos deve esses brinquedos em full color range, mas não descarto a ideia de ter um bichinho dessa geração na minha pasta.

Falando nisso... alguém aí se interessa por uma estante de peroba em bom estado, verniz tinindo, fácil de desmontar...

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