segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A Entrevista

Thomas, 26 anos, filho de família abastada, acordou as 6h. Estava muito ansioso para a sua entrevista de emprego. Havia se inscrito no processo seletivo de um grande banco, onde concorria com aproximadamente 12.000 jovens para uma das 40 vagas do processo seletivo para Trainee. Passadas as fases iniciais, hoje seria finalmente entrevistado por uma banca de diretores.

Chegou na sede do banco um pouco antes do horário previsto e para passar o tempo, leu algumas matérias da nova edição da Newsweek  online no notebook que trouxera consigo.

- Sr. Thomas?
Levantou-se, ajeitou a gravata do suit novo e respondeu:
- Sim.
- Vamos lá? Acompanhe-me por favor.

Percorreram um longo corredor com muita gente trabalhando. Olhou pelo vidro ao redor e se achou  high-profile demais para aquila coisa tão básica. Mesmo assim, pensou: "é aqui que eu quero estar trabalhando no próximo mês"

Chegando na sala de entrevistas, ninguém menos que a senhorita Schumacher, a diretora de Recursos Humanos. Após apresentar-se oficialmente, iniciou o diálogo:

- Sr. Thomas, vamos estartar a nossa entrevista com uma pergunta bem simples: o que o traz aqui?
- Bem, uma oportunidade de iniciar a minha carreira numa grande corporação. Que seja algo entry-level mesmo... Já me sinto pronto para começar asap!
- E o que sabe sobre o Bank Investments?
- Primeiro que é um dos principais players num mercado global, com excelente performance, sólidos resultados nos últimos anos, com upsides de EBITDA, CFROGI e market share. E depois que é uma empresa que investe bastante no empowerment dos seus empregados.


- Gostei do seu approach. Muito bem informado! Vejo aqui no seu currículo graduação em economia, MBA em finanças... Conte-me um pouco sobre seu background, expertise e skills.
- Além do que a senhora comentou, sou black belt e pretendo fazer o PMP para project management ano que vem. Na minha experiência profissional anterior, como estagiário, trabalhei numa corporação cujo core business era o varejo. Participei do maior turn around ocorrido na empresa, quando, num momento crítico, houve um enorme downsizing para viabilizar uma joint-venture emergente.
- Muito Bom...
- Além disso também pesquisei ativamente os processos da empresa do meu pai, mas lá me limitei ao budgeting e cash-flow.
- E parou a pesquisa?
- Precisamente. Não concordava com a falta de aderência ao business plan original do empreendimento. O headcount ultrapassava o dobro do planejado para o resultado obtido no segundo trimestre. Me senti pouco prestigiado quando anunciei que o break even point seria postergado em um ano e não fui ouvido... Mas papai entendeu bem minha posição. Tive esse feedback dele.
- Perfeito, perfeito! Muito proativo! Mas como o senhor pode aprender tanto a ponto de realizar essa análise mark up tão precisa?
- On job training mesmo. Em empresa familiar todo mundo tem que dar uma de controller de vez em quando...
- Show! Agora conte-me um pouco da sua vida particular. Como vive? Como são suas relações familiares e conjugais? Tem filhos?
- Veja bem, ainda sou um bachelor. Moro sozinho num loft alugado por papai e atualmente não tenho namorada, só umas amizades free-lancers. Estabeleci um compromisso comigo mesmo de só constituir família própria após atingir certos targets pessoais, mas o deadline ainda está um pouco longe de chegar. Assim, sigo o meu ramp up no timing devido...
- E quando não trabalha, faz o que?
- Ouço música. Rock, hip hop, lounge e algum jazz, mas gosto mesmo é de Men at Work !
- Ok, ok... Uma última pergunta, apenas. Onde o senhor espera chegar aqui no Bank Investments?
- CEO.
- Mas... assim? De cara?
- Claro que não! Após alguns job rotations e o estabelecimento de um masterplan preciso, com due diligences e follow ups periódicos. Por enquanto estou só no kick-off desse processo.
- Ah, claro... Muito obrigado e Parabéns Sr. Thomas! O seu profile já o caracteriza como um homo corporativus de excelente background. Vamos analisar seu curriculum  e nosso pessoal de assessment e R&S poderá contactá-lo em breve. Boa Sorte!



Uma semana depois, nada conformava o candidato preterido.
Incrédulo e com o smartphone na mão, lia e relia o email de agradecimento e dispensa do Banco. Disseram que era necessária alguma fluência em inglês para o entry-level...

E sem inglês... Bem, sem inglês a gente sabe.

Sem saber nada de inglês não dá, né...?

7 comentários:

  1. Valeu, Markito!
    Complementei algumas coisas no seu texto e ficou um belo trabalho a quatro mãos.
    Way to go, buddy!

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  2. Só tem três leitores, o dono, o amigo do dono que ajuda a escrever e o outro amigo do dono que foi preterido!!! rs... Mas tá bom, o que importa é se expressar!

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  3. Excelente texto, mostra uma realidade do nosso mercado, mais do que nunca as linguas são fundamentais para garantir um UPGRADE na carreira, existe um mercado imenso fora do Brasil esperando.

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  4. Luiz,
    parabéns pelo texto... de fato me senti um pouco assim nos testes de trainee, mas ainda bem que eu entrei...

    Abraço

    Marco Carneiro
    RI-FCA

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  5. Exigem outra língua, que na verdade não serve para porra nenhuma a não ser pronunciar as palavrinhas corporativas clicês "feedback, background, expertise,network, share, manegement"....

    Na boa, modinha dessa nova geração de "executivos"....tem muito merdinha aí que passou a vida no number one, depois foi fazer intercâmbio (só para tirar foto e colocar no orkut..."eu em Wal Street, Eu em Manhattam", mas TRABALHAR que é bom, PRODUZIR...NECAS (trocadilho com Bar da Neca, point dos Executive Boys...).

    O que uma empresa precisa mesmo é de gente que saiba resolver problemas, apresentar propostas e de preferência, em português, pois é a língua que se fala nesse país.

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  6. Agora com revisão ortográfica!!!!

    Exigem outra língua, que na verdade não serve para porra nenhuma a não ser pronunciar as palavrinhas corporativas clichês "feedback, background, expertise,network, share, manegement"....

    Na boa, modinha dessa nova geração de "executivos"....tem muito merdinha aí que passou a vida no number one, depois foi fazer intercâmbio (só para tirar foto e colocar no orkut..."eu em Wall Street, Eu em Manhattam", mas TRABALHAR que é bom, PRODUZIR...NECAS (trocadilho com Bar da Neca, point dos Executive Boys...).

    O que uma empresa precisa mesmo é de gente que saiba resolver problemas, apresentar propostas e de preferência, em português, pois é a língua que se fala nesse país.

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