Thomas, 26 anos, filho de família abastada, acordou as 6h. Estava muito ansioso para a sua entrevista de emprego. Havia se inscrito no processo seletivo de um grande banco, onde concorria com aproximadamente 12.000 jovens para uma das 40 vagas do processo seletivo para Trainee. Passadas as fases iniciais, hoje seria finalmente entrevistado por uma banca de diretores.
Chegou na sede do banco um pouco antes do horário previsto e para passar o tempo, leu algumas matérias da nova edição da
Newsweek online no
notebook que trouxera consigo.
- Sr. Thomas?
Levantou-se, ajeitou a gravata do
suit novo e respondeu:
- Sim.
- Vamos lá? Acompanhe-me por favor.
Percorreram um longo corredor com muita gente trabalhando. Olhou pelo vidro ao redor e se achou high-profile demais para aquila coisa tão básica. Mesmo assim, pensou: "é aqui que eu quero estar trabalhando no próximo mês"
Chegando na sala de entrevistas, ninguém menos que a senhorita Schumacher, a diretora de Recursos Humanos. Após apresentar-se oficialmente, iniciou o diálogo:
- Sr. Thomas, vamos
estartar a nossa entrevista com uma pergunta bem simples: o que o traz aqui?
- Bem, uma oportunidade de iniciar a minha carreira numa grande corporação. Que seja algo entry-level mesmo... Já me sinto pronto para começar asap!
- E o que sabe sobre o
Bank Investments?
- Primeiro que é um dos principais
players num mercado global, com excelente
performance, sólidos resultados nos últimos anos, com
upsides de
EBITDA, CFROGI e
market share. E depois que é uma empresa que investe bastante no
empowerment dos seus empregados.
- Gostei do seu
approach. Muito bem informado! Vejo aqui no seu currículo graduação em economia,
MBA em finanças... Conte-me um pouco sobre seu
background, expertise e
skills.
- Além do que a senhora comentou, sou
black belt e pretendo fazer o
PMP para
project management ano que vem. Na minha experiência profissional anterior, como estagiário, trabalhei numa corporação cujo
core business era o varejo. Participei do maior
turn around ocorrido na empresa, quando, num momento crítico, houve um enorme
downsizing para viabilizar uma
joint-venture emergente.
- Muito Bom...
- Além disso também pesquisei ativamente os processos da empresa do meu pai, mas lá me limitei ao
budgeting e
cash-flow.
- E parou a pesquisa?
- Precisamente. Não concordava com a falta de aderência ao
business plan original do empreendimento. O
headcount ultrapassava o dobro do planejado para o resultado obtido no segundo trimestre. Me senti pouco prestigiado quando anunciei que o
break even point seria postergado em um ano e não fui ouvido... Mas papai entendeu bem minha posição. Tive esse
feedback dele.
- Perfeito, perfeito! Muito proativo! Mas como o senhor pode aprender tanto a ponto de realizar essa análise
mark up tão precisa?
-
On job training mesmo. Em empresa familiar todo mundo tem que dar uma de
controller de vez em quando...
-
Show! Agora conte-me um pouco da sua vida particular. Como vive? Como são suas relações familiares e conjugais? Tem filhos?
- Veja bem, ainda sou um
bachelor. Moro sozinho num
loft alugado por papai e atualmente não tenho namorada, só umas amizades
free-lancers. Estabeleci um compromisso comigo mesmo de só constituir família própria após atingir certos
targets pessoais, mas o
deadline ainda está um pouco longe de chegar. Assim, sigo o meu
ramp up no
timing devido...
- E quando não trabalha, faz o que?
- Ouço música.
Rock, hip hop, lounge e algum
jazz, mas gosto mesmo é de
Men at Work !
-
Ok, ok... Uma última pergunta, apenas. Onde o senhor espera chegar aqui no
Bank Investments?
-
CEO.
- Mas... assim? De cara?
- Claro que não! Após alguns
job rotations e o estabelecimento de um
masterplan preciso, com
due diligences e
follow ups periódicos. Por enquanto estou só no
kick-off desse processo.
- Ah, claro... Muito obrigado e Parabéns Sr. Thomas! O seu
profile já o caracteriza como um
homo corporativus de excelente
background. Vamos analisar seu
curriculum e nosso pessoal de
assessment e
R&S poderá contactá-lo em breve. Boa Sorte!
Uma semana depois, nada conformava o candidato preterido.
Incrédulo e com o
smartphone na mão, lia e relia o
email de agradecimento e dispensa do Banco. Disseram que era necessária alguma fluência em inglês para o
entry-level...
E sem inglês... Bem, sem inglês a gente sabe.
Sem saber nada de inglês não dá, né...?