Chegou na sede do banco um pouco antes do horário previsto e para passar o tempo, leu algumas matérias da nova edição da Newsweek online no notebook que trouxera consigo.
- Sr. Thomas?
Levantou-se, ajeitou a gravata do suit novo e respondeu:
- Sim.
- Vamos lá? Acompanhe-me por favor.
Percorreram um longo corredor com muita gente trabalhando. Olhou pelo vidro ao redor e se achou high-profile demais para aquila coisa tão básica. Mesmo assim, pensou: "é aqui que eu quero estar trabalhando no próximo mês"
Chegando na sala de entrevistas, ninguém menos que a senhorita Schumacher, a diretora de Recursos Humanos. Após apresentar-se oficialmente, iniciou o diálogo:
- Sr. Thomas, vamos estartar a nossa entrevista com uma pergunta bem simples: o que o traz aqui?
- Bem, uma oportunidade de iniciar a minha carreira numa grande corporação. Que seja algo entry-level mesmo... Já me sinto pronto para começar asap!
- E o que sabe sobre o Bank Investments?
- Primeiro que é um dos principais players num mercado global, com excelente performance, sólidos resultados nos últimos anos, com upsides de EBITDA, CFROGI e market share. E depois que é uma empresa que investe bastante no empowerment dos seus empregados.
- Gostei do seu approach. Muito bem informado! Vejo aqui no seu currículo graduação em economia, MBA em finanças... Conte-me um pouco sobre seu background, expertise e skills.
- Além do que a senhora comentou, sou black belt e pretendo fazer o PMP para project management ano que vem. Na minha experiência profissional anterior, como estagiário, trabalhei numa corporação cujo core business era o varejo. Participei do maior turn around ocorrido na empresa, quando, num momento crítico, houve um enorme downsizing para viabilizar uma joint-venture emergente.
- Muito Bom...
- Além disso também pesquisei ativamente os processos da empresa do meu pai, mas lá me limitei ao budgeting e cash-flow.
- E parou a pesquisa?
- Precisamente. Não concordava com a falta de aderência ao business plan original do empreendimento. O headcount ultrapassava o dobro do planejado para o resultado obtido no segundo trimestre. Me senti pouco prestigiado quando anunciei que o break even point seria postergado em um ano e não fui ouvido... Mas papai entendeu bem minha posição. Tive esse feedback dele.
- Perfeito, perfeito! Muito proativo! Mas como o senhor pode aprender tanto a ponto de realizar essa análise mark up tão precisa?
- On job training mesmo. Em empresa familiar todo mundo tem que dar uma de controller de vez em quando...
- Show! Agora conte-me um pouco da sua vida particular. Como vive? Como são suas relações familiares e conjugais? Tem filhos?
- Veja bem, ainda sou um bachelor. Moro sozinho num loft alugado por papai e atualmente não tenho namorada, só umas amizades free-lancers. Estabeleci um compromisso comigo mesmo de só constituir família própria após atingir certos targets pessoais, mas o deadline ainda está um pouco longe de chegar. Assim, sigo o meu ramp up no timing devido...
- E quando não trabalha, faz o que?
- Ouço música. Rock, hip hop, lounge e algum jazz, mas gosto mesmo é de Men at Work !
- Ok, ok... Uma última pergunta, apenas. Onde o senhor espera chegar aqui no Bank Investments?
- CEO.
- Mas... assim? De cara?
- Claro que não! Após alguns job rotations e o estabelecimento de um masterplan preciso, com due diligences e follow ups periódicos. Por enquanto estou só no kick-off desse processo.
- Ah, claro... Muito obrigado e Parabéns Sr. Thomas! O seu profile já o caracteriza como um homo corporativus de excelente background. Vamos analisar seu curriculum e nosso pessoal de assessment e R&S poderá contactá-lo em breve. Boa Sorte!
Uma semana depois, nada conformava o candidato preterido.
Incrédulo e com o smartphone na mão, lia e relia o email de agradecimento e dispensa do Banco. Disseram que era necessária alguma fluência em inglês para o entry-level...
E sem inglês... Bem, sem inglês a gente sabe.
Sem saber nada de inglês não dá, né...?