sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Fator Raridade x Seu Salário

Hoje passei um tempo conversando com uma pessoa inteligente. Logo, fiz um investimento. O papo era sobre os altos valores cobrados por palestrantes no mercado corporativo. Mas não só sobre isso...

É interessante perceber como existe uma relação invertida entre um bem produzido pelo trabalho físico e o valor percebido e atribuido a ele pelo mercado. O lugar comum é a situação em que o operário que dedica mais horas e mais esforço físico ao trabalho é comumente muito mais mal remunerado do que o executivo que, embora dedique muitas horas ao seu processo produtivo, não exerce esforço físico algum.

Nesses anos 2000 é conhecido por todos o fracasso do comunismo em tentar gerar um equilíbrio balanceado entre trabalho e capital, distribuindo as riquezas do sistema igualitariamente entre seus geradores. A utopia era perfeita mas hoje me soa como tentar forjar o controle do câmbio do dólar, produzindo a ilusão de que se tem uma moeda local forte. A indução articial não produz distribuição de renda, afinal.

A única coisa que percebo entrar como fiel da balança nessa equação, trazendo, ironicamente, maior justiça na distribuição do capital, é algo que chamo de "fator raridade". É a raridade do trabalho, e não o esforço e tempo empregados neste, que traz maior retorno sobre o investimento. Esse é termo da equação que estabelece, não um equilíbrio propriamente dito, mas um princípio de tendenciamento na remuneração do trabalho.

Por esse raciocínio é que vemos peões da construção civil suando a camisa e ganhando pouco em jornadas descomunalmente braçais e ao mesmo tempo vemos um artista plástico malhando ferros para produzir obras que, por serem "de arte", geram um retorno fabuloso ao artista e o representam in persona, caracterizando assim o alto grau de raridade do evento. Em termos práticos: os irmãos Campana suam bicas para produzir suas peças de design e fazem rios de dinheiro por seu particular talento enquanto na obra da esquina dezenas de serventes suam outras bicas em esforço bruto para receberem um cheque-miséria semanal e apenas viverem suas vidas. Mas, afinal, existem dois irmão campana com um talento raro e 200 mil pedreiros dividindo as mesmas habilidades no mercado, não?

Daí é que volto à discussão sobre os altos valores cobrados por palestrantes e encaixo a teoria da raridade com perfeição. Nada é mais bem remunerado do que o capital intelectual movido por esses professores-relâmpago, que resumem em duas horas o conteúdo do seu livro e embolsam 20 mil reais antes de sair correndo para a próxima preleção do dia. Talvez eu ou você possamos dizer as mesmas coisas, mas só pagarão a eles porque eles tem um sbrifs a mais: o efeito raridade.

Pense nisso. 

Na próxima vez que seu filho zerar um jogo no playstation de forma absurdamente rápida e genial, pense se ele não poderá ser um futuro virtuose da criação de games capaz de revolucionar um mercado usando boné e jeans, como John Romero e seu Doom. Pense no que você tem de melhor, único e pessoal... algo que certamente os outros percebem e desejam - eventualmente até verbalizam isso. Invista nisso e relegue o resto. Essa é a sua fortaleza!

Recentemente percebi a minha. Não conto pra não ser imitado, afinal a coisa só tem valor se somente você a dominar no ambiente. Minha vó, em sua sabedoria, diria "em terra de cego quem tem olho é rei". Já eu, numa tirada mais noveau chic, afirmo: Eu quero mais é viver de raridade...

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